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Ilustração por @grgikau
Oi!
Eu sou Jordana, tenho 23 anos e faço 24 anos esse mês. Sou escritora, bibliotecária, poeta, criadora de conteúdo literário na internet, gosto de tantas coisas como o cheiro da chuva, uma panela de brigadeiro, doces no geral, cheiro de livro novo, bolo de chocolate e café preto.
E eu sou bissexual.
É estranho como uma frase tão simples eu levei a vida toda pra dizer, mesmo eu sempre sabendo aqui internamente, eu demorei muito tempo para me aceitar.
Isso porque além da orientação sexual, eu levei um tempo para entender como eu me enxergava enquanto identidade de gênero então aproveitando o momento para dizer que me identifico como gênero fluído (dela/dele).
Isso aqui vai ser um relato um pouco mais pessoal e acho que nunca mostrei tanto de mim assim publicamente, mas acho que tem coisas que precisam sim ser ditas e colocadas para fora depois de ter passado a vinda inteira com elas guardadas dentro de mim.
A gente chegou em setembro e esse é o mês da visibilidade bissexual, o mês do meu aniversário, e o mês que escolhi para lançar um conto. Quando eu penso sobre quem eu era e como eu estava em setembro do ano passado, ainda tentando entender quem eu era e meu lugar no mundo, e toda a pressão para formar na faculdade, a pandemia, a volta do estágio curricular, e aqui dentro eu era uma confusão.
Mas a verdade é que eu sempre soube quem era, sempre soube que não era hétero, mas eu tentei me encaixar nos padrões, me encaixar onde não me cabia. Durante muito tempo tentei ser quem eu não era por conta das outras pessoas.
Sempre existia, só existia os dois lados da moeda, ou você é isto ou você é aquilo, ou você gosta disso ou daquilo. E eu não era assim, não me via ou me entendia na forma como as pessoas queriam que eu me visse, não me encontrava em nenhum lugar.
Isso também era reflexo de não existir representatividade, isso em todos os lugares, tv, cinema, desenhos e principalmente nos livros. Nas histórias que eu li, eu não estava presente. Hoje a literatura nacional tem autores incríveis que eu daria tudo para ter lido na minha adolescência.
Várias histórias que eu esperei a vida toda para ler, para me encontrar e sentir que existe sim um lugar pra mim. Ver uma mulher negra na capa de um livro, ver duas mulheres negras na capa de um livro, ler história com protagonismo não-binário.
Aos quase 24 anos é que me enxergo, eu sinto que pertenço a algo, onde eu sinto que está tudo bem em eu ser simplesmente como eu sou e falar hoje “eu sou bissexual” foi um caminho muito difícil e muito duro para mim, porque durante a vida toda eu reprimir sentimentos por acreditar que era errado senti-los, que meu amor era errado, que o meu ser era errado, que eu tinha algum defeito de fábrica. Mas hoje eu sinto que finalmente eu sou quem eu sempre fui.
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